O rascunho da vértebra

Leonardo Castelo Branco

Atenção: os livros físicos serão enviados a partir do dia 25 de junho!

Um diário de memórias, vida urbana e existências à deriva, onde até o silêncio escreve.

“Da cozinha do pequeno apartamento no bairro de Santa Cecília às observações e estilhaços de rua, ‘O Rascunho da Vértebra’ sustenta um esqueleto de memória, sangue e ação.”

É assim que Xico Sá, no prefácio deste livro, nos convida a entrar na escrita de Leonardo Castelo Branco — um flâneur que alterna epifanias existenciais e cenas da cidade, construindo um diário que é, ao mesmo tempo, busca e confissão. Entre afetos, música, futebol e as esquinas de São Paulo, sua narrativa nos coloca diante de um autor que transforma a banalidade do dia a dia em arte, dando voz ao que, normalmente, passa despercebido.

Do quarto e sala onde escreve até as ruas que percorre, Leonardo imprime no texto um olhar sensível e cinematográfico. Pequenos gestos e objetos cotidianos assumem um papel quase épico.

“O som da máquina de lavar me leva ao mar, enquanto o fluxo da torneira, ao lavar louça, me transporta até uma corredeira poderosa.” E entre devaneios, lembranças e anotações sobre a cidade, surgem cenas que condensam contrastes e poesia: “A patricinha passeia com seu Shih Tzu pelo mesmo concreto e sob o mesmo recorte de céu azul onde, no canteiro central, um morador de rua bebe seu Corote.”

Mas, no fundo, este livro é sobre o tempo — e como ele nos atravessa. É sobre a literatura como espelho e refúgio, sobre as vozes que nos acompanham e os silêncios que nos transformam. E, claro, é também sobre Poema, a cachorra que um dia lhe seguiu por quilômetros e nunca mais lhe largou o coração.

Como bem aponta Xico Sá, “O rascunho da vértebra” é uma belíssima estreia, um livro que pulsa e respira.

Senhoras e senhores, à leitura!

O autor

Leonardo Castelo Branco nasceu em São Paulo, em 1986, e trabalha como redator há 20 anos no mercado publicitário. É autor de “O Colecionador de Emoções”, a biografia de Oscar Maroni. O Rascunho da Vértebra marca sua estreia no universo da ficção literária.

Trechos

“Dizem que boas histórias têm o poder de nos transportar. Quem cunhou essa frase provavelmente estava lendo no metrô, distraído, enquanto sua estação passava despercebida. Essa foi minha manhã de hoje — perdido nas páginas de Cupom Falso, de Tolstói. Enquanto o trem avançava, eu viajava por outra realidade, alheio aos avisos sonoros, ao vendedor que empilhava quinquilharias nas mãos, às conversas laterais que sempre flertam com nossa curiosidade, às telas alheias piscando notificações e à música abafada que escapava dos fones de um passageiro ao lado. Enquanto o metrô seguia seu caminho, eu já estava em outro tempo, em outro país, talvez em outra vida. A realidade só voltou aos trilhos três estações depois da minha parada, arrancada do transe por um passageiro apressado que esbarrou em mim ao se levantar. Tudo bem. A literatura me ensinou que nem todo atraso é uma perda de tempo”

“Este texto acontece no momento em que desembarco do metrô e me lanço à contemplação da cidade. Há algo revigorante em estar imerso nas massas; ser multidão e, simultaneamente, solidão. Como um espectro, caminho pelos detalhes insignificantes que me cercam. Ah, vida na cidade! Que poder curativo há em uma caminhada na mente daquele que persiste no ofício de escrever. Aqui, no centro de todos os centros, me transformo neste inusitado contrafluxo. No frenesi de São Paulo em alta velocidade, redescubro os prazeres da lentidão. Uma dádiva rara, talvez reservada apenas aos verdadeiros sonhadores, colher poesia em meio a selva de pedra. Observo olhares que não enxergam, ambições que não se concretizam e sinto o cheiro cinza no ar –  tudo é como o primeiro raio de luz entrando em um quarto escuro. É essa leve embriaguez que me faz recostar em uma das monumentais estruturas do MASP para anotar as primeiras linhas desta prosa. Agora, é a cidade quem me contempla.”