João

João sabe que na quebrada não existe justiça, só equilíbrio.
O crime não perdoa, a necessidade não espera, e um passo em falso pode custar a vida.
Mas entre tiros, traições e esquemas, a ironia da rua se impõe: o destino nem sempre segue o roteiro esperado.
Com ritmo afiado e diálogos cortantes, este livro não pede licença — ele invade, impacta e não deixa ninguém sair ileso.

O autor

Ricardo Mattos é carioca, flamenguista, redator e escritor.

Trechos

“Meti o trezoitão escondido na lateral da bermuda e saí pilhadaço, como se o Nestor tivesse vacilado comigo e não com o Zaca. Tu não imagina a vontade que eu estava de apertar o gatilho e mandar o otário pra vala. Eu me sentia O Justiceiro. Se naquele momento o Zaca pedisse para abortar a missão, eu primeiro perguntaria ‘Como é que é, doidão?’ e depois mandaria ele se fuder. Na real, eu tava num ponto que mataria o Nestor até no 0800.
(…)

— Tu usa perfume?
— Boticário.
— Qual Boticário?
— Quasar.
— Taquipariu. Quasar, aquele azul?
Olhei pro Gaúcho e lancei a bomba:
— Aí, meu brabo. Não vai dar pra matar o cara. Filha da puta usa o mesmo perfume que meu pai usava.”

“A casa da tia da Suzi ficava em frente a uma igreja. Entramos. Ela rezou pela saúde da tia. E eu pedi proteção pra não levar bala de policial comédia. Na real, não tem como se manter vivo no crime sem acreditar em Deus. Bandido ateu? Desconheço.
Fiquei uns bons minutos na resenha silenciosa com Ele, até que Suzi interrompeu:

— João.

Permaneci rezando. Ela insistiu:

— João.
— Amor, agora não posso, né?
— Olha quem tá ali.
— Ih, caceta. A Lauroca. Suzi… me dá o celular.
— Pra que?
— Anda, rápido. Antes que ela vá embora.

Meti o zoom e registrei a prova do crime. Acho que ela viu, mas dane-se.”